díptico
silêncio
ano 2025
Há um instante em que tudo silencia.
Não por escolha mas porque já não há o que dizer.
Ali, quando nada mais se impõe, um sussurro se destaca.
Quase imperceptível, chama a atenção não por força, mas por verdade, mesmo que o vazio pareça maior.
O que antes era vazio se transforma em espaço, espaço para perceber.
Espaço para voltar.
Espaço para ser e escutar aquilo que só se ouve quando tudo se cala.
Quando o ruído cessa.
Quando até a dor se cansa.
Há um chamado sútil para voltar-se
Ali, entre céu e terra, carne e espírito, não há separação — há encontro.
Imagem e semelhança.
Memória e promessa.
Ferida e cura.
Porque o silêncio, quando escutado com entrega, não é ausência de som.
É presença de sentido.
E ali, no centro do que parecia angústia, pode-se encontrar enfim, a cura.
Que não se explica.
Mas se sente.
Se reconhece.
Se torna paz.
No silêncio.


